quinta-feira, 29 de novembro de 2007

América Latina - Terra de guerras?

Há um tempo guardei uma página de jornal com nomes de novos escritores latino-americanos de língua espanhola. Foi logo depois de ler uma matéria que dizia que ia falar das novidades e citava Onetti e Juan Rulfo, que são geniais mas de novos não têm nada, nada.

Finalmente fui à livraria. Sem planejar, foi em um dia em que o jornal estava cheio de notícias sobre países da América Latina. A Bolívia com a Assembléia Constituinte que não termina, com 4 mortes e uma porção de feridos nos protestos em Sucre. A cidade branca coberta de fuligem negra, as decisões a portas fechadas em La Paz . As mobilizações acalmam de um dia pra outro, mas uma brasileira que falou ao O Globo definiu de um jeito interessante: “È uma calma tensa”, ela disse. A Venezuela, às vésperas de mais um referendo sobre reformas constitucionais, também ganhou espaço pelos protestos e pelo rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia, que também não costuma trazer notícias das mais tranqüilas. Tinha me chamado a atenção, também no O Globo, um dado sobre como a TV estatal só dá espaço pra matérias pró-mudanças, seguido pelo dado que mostra que, com pequena diferença, a TV privada faz o mesmo, anti-mudanças.

No fim de um dia de notícias como essas, os primeiros livros que encontrei na livraria foram belas reedições de livros lindos – Rayuela e uma edição comemorativa de Cem anos de solidão. Ambos em espanhol logo na entrada, pareceram um bom sinal.

Lista dos novos em punho, fui achando os livros, todos traduzidos para o português. Os Pichicegos, de Rodolfo Fogwill, argentino, ambientado na guerra das Malvinas. Rádio Cidade Perdida, de Daniel Alarcon, peruano, favela na capa vermelha, povo que é executado e fuzila na epígrafe. Rádio, índios, desaparecidos vêm logo depois. De Santiago Roncagliolo, também peruano, tinha o Abril Vermelho, outra capa vermelha, outro livro com morte na primeira página, romance policial com Sendero Luminoso no caminho. E, do mexicano David Toscana, O Exército Iluminado, tratando de algo que, segundo a orelha, tem a ver com paz e guerra. Opa, a guerra ali, em todos. Em cada um. Não estou dizendo que Venezuela ou Bolívia estão em guerra, , nem que o que acontece lá se resume aos acontecimentos recentes. Talvez pudesse falar em guerra na Colômbia, mas nem é este o ponto. A questão aqui é que, pelo menos nessa primeira incursão, encontrei livros com temas de alguma forma parecidos: assuntos urbanos, violência, mortes, história recente dos países presente na ficção.

Confesso que eu perguntei pra moça da livraria se tinha alguma coisa mais leve. Ela riu e disse que não. Trouxe outras sugestões, mas de autores espanhóis. Rejeitei a Europa, fiquei com o critério da América que fala espanhol. Pra não comprar todos de uma vez, optei pelo Abril Vermelho e pelo Rádio Cidade Perdida. O critério, para estes, foi o de serem autores bem jovens: Alarcón está perto dos 30 e Toncagliolo nasceu em 1975.

Admiti que os livros que comprei pras férias – faltam 22 dias na contagem regressiva necessária – não vão ser lá os mais leves da história. A pesquisa, é verdade, é bem inicial, e com mais livros posso concluir que esta não é a única linha. Vou procurar mais.

Voltei pra casa ouvindo um sambinha sobre paixões e melancolia pra compensar. Fechei o vidro quando o menino se aproximou no sinal, e por um segundo pensei que se nós brasileiros continuamos tão distantes dos paises vizinhos talvez seja por medo de nos vermos neles. Afinal, cidade perdida podia ser o Rio, podia ser São Paulo, e rádio – ou comunicação em geral – também são problemas bem comuns por aqui.

No caminho de volta lembrei do blog e resolvi que vou atualizá-lo falando sobre os livros e sobre o que der vontade de escrever quando os estiver lendo.

Vamos ver quanto tempo dura esta decisão.

Pra ser sincera, no primeiro parágrafo do primeiro post, tinha escrito que ia falar sobre “literatura latino-americana”. Mas aí lembrei que aqui também é América latina e depois de um tanto pensar coloquei o “língua espanhola”. Bonito da minha parte.

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